sábado, 8 de novembro de 2008

Quando a luz acaba...



-Vou pra janela, vou pra janela! A luz acabou!


Quando era criança adorava ir para a janela observar o breu e o comportamento das pessoas quando acabava a luz durante um temporal. Via todo mundo correr para pegar uma vela, ouvia aquele burburinho e depois de um tempo via as janelas iluminadas por aquela luz amarelada e fraquinha. Algumas pessoas ficavam andando de um lado a outro, como que num desespero para que a luz voltasse logo. E eu, torcia para demorar o máximo possível!


Tudo escuro, raios e trovões abalando os prédios, aguaceiro sem fim! Que maravilha! Só assim era possível ver o mundo de um jeito mais natural, mas logo percebi o quanto o planeta se tornou dependente das tecnologias. Eu inclusive...


Quando acendemos a luz o mundo mudou! De uma maneira geral as pessoas, que até então viviam sem ela, passaram a depender tão absurdamente disso que hoje é quase impensável viver sem luz ou eletricidade. Antigamente não havia isso e as pessoas acendiam fogueiras, dormiam mais cedo e levavam uma vida mais saudável. Nada disso é novidade.


O organismo humano é sensível a tudo. Temos hormônios para acordar e dormir. Quando a luz do sol começa a dar sinal durante o amanhecer o cérebro capta esta informação e detona uma cascata hormonal para despertarmos. E quando o sol se põe, outra cascata de hormônios é detonada indicando a hora de dormir, pois o cérebro percebe a ausência de luz. Com o advento da luz elétrica isso mudou radicalmente; agora o cérebro encontra mais dificuldades para se orientar já que muitas luzes ficam acesas. Antes, a luz natural acabava por volta das 6 da tarde e os hormônios do sono entravam em funcionamento. Agora, acendemos as luzes e permanecemos mais tempo acordados. Isso gera um efeito extremamente estressante para o corpo, que tem dificuldades para identificar com precisão a hora de detonar a fabricação de hormônios do sono, logo temos problemas para despertar e conseqüentemente, para dormir. A maioria de nós precisa do despertador para acordar. Levamos uma vida estressada, estamos muitas vezes cansados e irritadiços e nem imaginamos o por quê, não é?


Estamos ligados a mil plugues, como em Matrix. Acende a luz, liga o PC, atende o celular, liga a TV, fogão automático, geladeira automática, lava-roupas, lava-louças, controle-remoto, indivíduo automático, carro, máquinas para fazer tudo por nós... Isso me lembra outro filme: Lorde Darth Vader em Star Wars, plugado, maquinado, autômato. E o Luke com seu braço mecânico? Será que chegaremos a tanto? Acho que sim!


O futuro já chegou! E agora, o que vem depois do futuro?


É difícil estabelecer uma fronteira entre o que é bom e ruim no âmbito da tecnologia, sem que isso pareça maniqueísta ou ainda, se individualmente essas coisas são úteis ou não. Mas será que precisamos de tantos aparatos eletrônicos, elétricos e portáteis? Ou é impossível viver hoje de modo mais frugal?


Vamos a mais uma lista:


Cafeteira é fundamental? Não até você começar a usá-la. Preferia não tê-la, mas minha sogra comprou uma, aí já viu!
Microondas são realmente necessários? Acho que não, a comida fica estorricada, emborrachada e às vezes fria.
Celulares? Melhor não tê-los, mas sem obtê-los, como atendê-los?
Lava-roupas? Sim, definitivamente são úteis.
Lava-louças? Há dias em que desejo ter uma!
Computadores? Não vivo bem sem eles...
Carros? Há lugares onde não ter um, é absolutamente impraticável. Não é triste isso?


A questão é que não queremos parecer hipócritas ao dizer que estas coisas imundam o planeta, mas não podemos viver sem. Então, qual é o limite aceitável, individual e coletivo dessa questão? Existe um meio termo? Acho que sim, mas quando veremos na prática, aparatos sendo fabricados com tecnologias acessíveis e não poluentes?


Voltando a vaca fria, até hoje, quando a luz acaba e vou até a janela, me deixo levar pelos pensamentos, agora não tão pueris, e penso, até que ponto ainda sou humana de verdade e conservo em mim as habilidades naturais para viver de modo independente das tralhas produzidas e sustentadas por nós? Sobreviveria sem isso? Como? Por quanto tempo?
E você?


A única coisa que sei é que há mais perguntas que respostas. A luz acaba voltando, cedo ou tarde, e com ela, vozes em uníssono ressoam pelos quatro cantos num coro aliviado e feliz.


Flô

9 comentários:

Anônimo disse...

Quando era pequena tinha medo do escuro, ficava apavorada! Mas hoje, fico quieta, esperando voltar. Não pego nem a vela! Já evoluí um pouquinho!
Adorei o blog!
Beijos
Adelaide

Anônimo disse...

Ai Flávia, sua figura louca! Tu é comédia menina!
Adoro as tempestades e também curto uma penumbra! Uma vez faltou luz aqui em casa no meio de uma festa. Foi ótimo pegamos um violão que estava encostado e fizemos um som acústico da melhor qualidade. Quando a luz voltou finalmente, resolvemos apagar de vez e continuar com som que tava mais maneiro!
Adorei este e os posts mais antigos!
Vai fundo garota louca! :D
Beijos
Biazinha

Patrícia Andréa disse...

É aquela velha premissa do "faça oq eu digo, mas não faça oq eu faço", ou então aquela do "vou deixar pro outro fazer"...

Eu detesto qdo acaba a luz...

Bjus!

Carolzinha disse...

"Vozes em uníssono" = É exatamente isso. Engraçado que quando acaba a luz, me foco sempre no barulho da tempestade e no silêncio que se cria... imagina sem toda essa tecnologia como estaríamos mais ligados a tudo isso... seria tão melhor!!
Eu confesso que sinto uma imensa necessidade numa cafeteira e num celular... não sei viver sem. De resto, acho que tem como se virar sim. Aliás, gostaria de passar um tempo super acampada e com pouca coisa pra ver o quanto consigo ficar independente dessa coisa toda, entendeu?? Já em relação ao que nosso corpo naturalmente é acostumado, confesso que meu cérebro já não deve ter mais noção do que é dia ou noite, afinal, tem tempos e tempos que troco isso.

Bom... boníssimo o texto, prima... como sempre!! \o/

Um ótimo Domingo pra ti.
Beijos. =**

Nefer Nefer Nefer disse...

adoro chuva, pena que aqui onde moro não chove tanto...mas quando acaba a luz eu fico louquinha...não tenho muitas opçoes de lazer e então sobra alguns programas de tv e a net; ás vezes eu me pergunto como as pessoas da idade média viviam sem: liquidificador, ferro, secador de cabelos (eu tenho frizz e até o ano passado eu não sabia o que era isso...), luz elétrica claro, agua encanada, etc. Mas acho totalmente mágica a luz de uma vela...
besitos

Anônimo disse...

Nossa, nunca tinha pensado na influência da luz elétrica sobre nossa dificuldade para dormir e acordar, interessante isso... Gostei do seu blog, parabéns!

http://valacomum.wordpress.com/

Anônimo disse...

Oi Flor, adorei suas reflexões!!! Não entro em pânico quando a luz acaba, talvez porque constumo andar no escuro e também aproveito para espreitar a natureza. Outra coisa que adoro admirar é mar com ressaca, mas claro de algum lugar seguro ;-)
Virei fã
Bjs
Ana

Patrícia Andréa disse...

Olá!

Só vim avisar q tem post novo lá no meu blog!

Bjus!

Fernanda Rodrigues disse...

Sabe que eu sempre gostei quando a luz acaba... essa situação toda de escuridão sempre faz com que as pessoas ... sei lá, conversem mais... todo mundo é tão dependente das máquinas, que, qdo a luz acaba, nos resta dormir ou conversar... that's all!!!

Adoro!!!

Beijos