quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Terra à vista! Recolonizando a América



Quando Cabral ‘descobriu’ o Brasil e nos trouxe a mais nova flor do Lácio não podia imaginar que 500 anos depois a Espanha teria o timão colonizador de volta às mãos!


Um brevíssimo resumo da história
Depois que Colombo aportou em terras novas no ano de 1492, teve o exército aniquilado por amistosos aruaques que viviam na região que hoje é a República Dominicana. Entretanto, um tempo depois, os aniquilou quase que completamente sem maiores dores na consciência.
Cabral movido pelo mesmo intento descobridor chegou ao Brasil um pouco depois, em 1500. Começava mais ou menos aí a história que nos ensinaram livros e professores.
Placar: Espanha 1 – Brasil 1


Antes - A estratégia colonizadora I
Os espanhóis, por volta do século XVI, já detinham o controle da zona costeira de quase toda a América, exceto a porção brasileira, graças ao papa Alexandre VI, que permitiu através da Bula Inter Coetera, a exploração de terras além mar; 100 léguas a partir da Ilha de Açores. Água, nada além de água! O tratado teve de ser revisto e então, a contar 370 léguas da ilha de Cabo Verde, os portugueses podiam efetivamente começar a operação colonizadora.



Os espanhóis fizeram sua exploração de modo mais pragmático, já que entraram pelo oeste, pelo norte e pelo sul, deixando de fora somente a porção que correspondia ao Brasil das Capitanias. Cortês, Pizarro e Magalhães não perderam tempo!
E o novo mundo foi, enfim, colonizado... Bem mais pelos espanhóis que pelos lusitanos.


Agora – A estratégia colonizadora II
A língua portuguesa e a língua espanhola são consideradas irmãs, devido à origem, à semelhança e à proximidade dos povos ibéricos. Há lá suas diferenças, que com o passar dos séculos, foram sendo minimizadas pelo efeito da globalização, esta é bem mais antiga do que imaginam algumas pessoas.



Mas a cereja deste bolo vem com a lei que torna obrigatório o ensino da língua espanhola no Brasil. Demorou, mas enfim a Espanha colocou seus tentáculos colonizadores por aqui. Este é um momento histórico importante.
Para nós, profes de espanhol, é a onda perfeita! Um dia cheguei a duvidar da opção profissional que havia feito. Pensava: “Por que dar aulas de espanhol? São línguas tão parecidas! Não há necessidade de dar aulas disso! As pessoas podem se comunicar sem ter que fazer aulas de espanhol. Que burra, dá zero pra mim!”.
Há quem discorde, mas implementar o ensino obrigatório de espanhol no Brasil é uma forma de colonização, a lingüística. O idioma e a identidade cultural de um país se preservam a partir desses marcos.


Mas não se preocupem brasileiros, a língua portuguesa não será dizimada! No máximo, com os séculos que virão, sofrerá transformações próprias de uma língua viva! Não podíamos ficar assim tão distantes ‘de los hermanitos’; tínhamos mesmo que aprender a bendita língua de Cervantes!


Placar: Espanha 2 – Brasil 1


Bem, acho que a história me contrariou, felizmente! Assim tenho como pagar as contas!

Flor

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SuperMulher

Primeiramente, gostaria de me desculpar com os leitores deste bloguito por não ter escrito algo na semana que passou. A vida de professora é exaustiva e requer árdua disciplina, paciência e atenção. Falando em atenção...
Atenção, atenção! A super mulher está aí! A supermáquina de fazer mil coisas ao mesmo tempo vem para anunciar o novíssimo momento da mulher!


O mundo viu vigorosas transformações no campo dos gêneros. Vamos a um apanhado histórico:


A mulher como reguladora do tempo


Antes, bem no início de tudo, a mulher era considerada um ser sagrado, pelo menos em boa parte das sociedades indígenas. Era tida como reguladora do tempo, já que em seu próprio corpo havia, e continua havendo, um relógio natural, mensal. Mens = Lua = Menstruação.
A contagem do tempo era feita a partir do ciclo menstrual feminino, de 28 dias. A Lua possui um ciclo cuja duração é de 28 dias. Há 13 luas durante um ano solar. Ou seja, a Lua dá 13 voltas completas em torno da Terra durante o período de 364 dias, aproximadamente.
Os antigos habitantes do planeta se guiavam de maneira muito simples, a despeito da alta complexidade que essa contagem envolvia. Usavam como referencia o ciclo feminino e nisso residia um grande equilíbrio de forças. As mulheres menstruavam no mesmo período e se dirigiam às tendas lunares a fim de trocar informações sobre parto, sangue, enfermidades, ervas, alimentação entre outros assuntos relevantes para elas e para a tribo. Nasceu aí um tabu, porque os homens, ao que parece, não aceitaram bem isso e fizeram guerras, muitas guerras.
Alguns grupos subjugaram as mulheres porque sempre foi assim. Gregos, romanos e outros como eles, nunca as tiveram em boa conta. Outros mantinham certo equilíbrio na distribuição de tarefas entre homens e mulheres.


A mulher como ser sem alma


O tempo passou, o mundo foi mudando seus modelos de conduta, suas ações e visões. Neste momento da História a mulher que sangra todos os meses e não morre é considerada diabólica, inferior, não possui alma e é um subproduto de Adão, logo alguns acharam que a resposta era queima-las nas fogueiras; queimaram-nas aos montes! Uma igreja feita por homens e para homens, julgou que as mulheres eram seres inferiores, amaldiçoados. Movidos pelo mesmo raciocínio e energia, estes mesmos homens constituíram uma nova forma de contar o tempo, redistribuindo e renomeando os meses e os dias. Nomes de imperadores.
A questão lingüística também merece atenção, já que quando na escola, aprendemos a Formação do Feminino, dado que substantivos e adjetivos são preferencialmente do gênero masculino. Isso se deve ao fato de que na consolidação de alguns idiomas convencionou-se que o masculino era o gênero mais importante, uma vez que eram os homens quem detinham a supremacia na criação e manutenção de regras, condutas e modelos.


A Santa mulher


Essa foi uma estratégia muito interessante da Igreja Católica, que ao dar-se conta da baixa taxa de natalidade resolveu investir na imagem da mulher como santa com o menino Jesus nos braços para fazer com que as mulheres quisessem ter filhos. E deu certo!
A Europa sofria com a pestilência e com o inverno. As crianças estavam morrendo aos montes e, muito em breve, se nada fosse feito, o continente iria converter-se em um asilo, sem exércitos, sem força. Preparou-se então uma propaganda que se espalhou como a peste negra. Usou-se a imagem da Virgem Santíssima com o menino Jesus nos braços para fazer crer as pessoas que a mulher era doadora da vida, um ser sagrado, por assim dizer. A moda pegou e a Europa foi salva pelas mulheres e suas crias.


Escravas felizes


Após um longo período parindo e servindo, as mulheres que não detinham mais seus destinos nas mãos há séculos, tinham como perspectiva de vida cuidar da família, serem bem comportadas e devidamente adestradas, dóceis e prendadas matronas.


Movimento Feminista
 

Fundamentalmente importante no resgate e na consagração de direitos que nunca deveriam ter sido usurpados, ignorados ou esquecidos, o Movimento Feminista operou e segue operando em diversos níveis da sociedade ocidental. Possui hoje inúmeras vertentes de pensamento e, algumas excessivamente radicais, acabam por impor uma certa condição à mulher, a de super mulher. É preciso discutir isso com seriedade e atenção, uma vez que as mulheres acumulam mais do que podem em nome da igualdade entre os sexos. É preciso entender a questão da igualdade como equilíbrio e não sob a perspectiva da superação e competição entre gêneros. É preciso parar de maltratar os homens e educá-los, bem como às mulheres. É preciso urgentemente resgatar a união e deixar de propagar ou reproduzir ‘Ismos’; eles são velhos demais. É preciso parar de achar bonito na televisão a Malu Mader mostrando eletrodomésticos mágicos e resplandecestes, na tentativa fútil de vende-los ou ainda, de vender a imagem da supermulher como aquela que ‘dá conta do recado, seja ele qual for’, porque a super mulher não existe, como não existem super-homens. Isso era bacana no seriado ‘A Feiticeira’; a despeito de a série ser muito cativante era também repleta de ideologias que pareciam glorificar a mulher, quando na verdade a colocava em uma posição bastante inferior, quando não, em uma função amortecedora e compreensiva dos caprichos masculinos. Tudo errado...


Há diversas formas de se relacionar com as pessoas. Homens e mulheres são diferentes; é preciso respeitar as diferenças e entende-las. Fala-se muito em ‘fazer o bem’, no entanto, no trato com o outro, há um véu qualquer que impede uma visão mais suave, mais serena, mais justa!


Flô

sábado, 8 de novembro de 2008

Quando a luz acaba...



-Vou pra janela, vou pra janela! A luz acabou!


Quando era criança adorava ir para a janela observar o breu e o comportamento das pessoas quando acabava a luz durante um temporal. Via todo mundo correr para pegar uma vela, ouvia aquele burburinho e depois de um tempo via as janelas iluminadas por aquela luz amarelada e fraquinha. Algumas pessoas ficavam andando de um lado a outro, como que num desespero para que a luz voltasse logo. E eu, torcia para demorar o máximo possível!


Tudo escuro, raios e trovões abalando os prédios, aguaceiro sem fim! Que maravilha! Só assim era possível ver o mundo de um jeito mais natural, mas logo percebi o quanto o planeta se tornou dependente das tecnologias. Eu inclusive...


Quando acendemos a luz o mundo mudou! De uma maneira geral as pessoas, que até então viviam sem ela, passaram a depender tão absurdamente disso que hoje é quase impensável viver sem luz ou eletricidade. Antigamente não havia isso e as pessoas acendiam fogueiras, dormiam mais cedo e levavam uma vida mais saudável. Nada disso é novidade.


O organismo humano é sensível a tudo. Temos hormônios para acordar e dormir. Quando a luz do sol começa a dar sinal durante o amanhecer o cérebro capta esta informação e detona uma cascata hormonal para despertarmos. E quando o sol se põe, outra cascata de hormônios é detonada indicando a hora de dormir, pois o cérebro percebe a ausência de luz. Com o advento da luz elétrica isso mudou radicalmente; agora o cérebro encontra mais dificuldades para se orientar já que muitas luzes ficam acesas. Antes, a luz natural acabava por volta das 6 da tarde e os hormônios do sono entravam em funcionamento. Agora, acendemos as luzes e permanecemos mais tempo acordados. Isso gera um efeito extremamente estressante para o corpo, que tem dificuldades para identificar com precisão a hora de detonar a fabricação de hormônios do sono, logo temos problemas para despertar e conseqüentemente, para dormir. A maioria de nós precisa do despertador para acordar. Levamos uma vida estressada, estamos muitas vezes cansados e irritadiços e nem imaginamos o por quê, não é?


Estamos ligados a mil plugues, como em Matrix. Acende a luz, liga o PC, atende o celular, liga a TV, fogão automático, geladeira automática, lava-roupas, lava-louças, controle-remoto, indivíduo automático, carro, máquinas para fazer tudo por nós... Isso me lembra outro filme: Lorde Darth Vader em Star Wars, plugado, maquinado, autômato. E o Luke com seu braço mecânico? Será que chegaremos a tanto? Acho que sim!


O futuro já chegou! E agora, o que vem depois do futuro?


É difícil estabelecer uma fronteira entre o que é bom e ruim no âmbito da tecnologia, sem que isso pareça maniqueísta ou ainda, se individualmente essas coisas são úteis ou não. Mas será que precisamos de tantos aparatos eletrônicos, elétricos e portáteis? Ou é impossível viver hoje de modo mais frugal?


Vamos a mais uma lista:


Cafeteira é fundamental? Não até você começar a usá-la. Preferia não tê-la, mas minha sogra comprou uma, aí já viu!
Microondas são realmente necessários? Acho que não, a comida fica estorricada, emborrachada e às vezes fria.
Celulares? Melhor não tê-los, mas sem obtê-los, como atendê-los?
Lava-roupas? Sim, definitivamente são úteis.
Lava-louças? Há dias em que desejo ter uma!
Computadores? Não vivo bem sem eles...
Carros? Há lugares onde não ter um, é absolutamente impraticável. Não é triste isso?


A questão é que não queremos parecer hipócritas ao dizer que estas coisas imundam o planeta, mas não podemos viver sem. Então, qual é o limite aceitável, individual e coletivo dessa questão? Existe um meio termo? Acho que sim, mas quando veremos na prática, aparatos sendo fabricados com tecnologias acessíveis e não poluentes?


Voltando a vaca fria, até hoje, quando a luz acaba e vou até a janela, me deixo levar pelos pensamentos, agora não tão pueris, e penso, até que ponto ainda sou humana de verdade e conservo em mim as habilidades naturais para viver de modo independente das tralhas produzidas e sustentadas por nós? Sobreviveria sem isso? Como? Por quanto tempo?
E você?


A única coisa que sei é que há mais perguntas que respostas. A luz acaba voltando, cedo ou tarde, e com ela, vozes em uníssono ressoam pelos quatro cantos num coro aliviado e feliz.


Flô

sábado, 1 de novembro de 2008

Era uma vez... Amores prontos de fábrica!


Tive que refletir sobre um comentário postado no texto anterior. Na verdade, esta é uma reflexão antiga e custosa. Mas por que não investigar mais profundamente o assunto?


O que nos faz crer que existem príncipes encantados?
Não existem príncipes encantados!


Nós mulheres aprendemos desde muito cedo a esperar pelo príncipe encantado de nossas vidas. Isso acontece, muito provavelmente, em função das inúmeras histórias infantis com as quais temos contato desde pequenas. Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida, Rapunzel e mais um sem fim de outras personagens de contos de fada povoam a mente feminina com sonhos e expectativas de um dia serem salvas de um monstro, madrasta, bruxa ou dragão de plantão!


Geralmente oferecemos contos de fadas às crianças numa tentativa de fazê-las vivenciar as histórias para terem um palco onde possam trabalhar certos conflitos. Entretanto, tais contos, em sua origem, começaram a ser lidos entre adultos à guisa de entretenimento, em salões de conversas. Possuíam conotações muitas vezes pesadas, de cunho voyerístico ou exibicionista, chegando até mesmo à violência sexual; vide Chapeuzinho Vermelho. O tempo fez seu trabalho e algumas destas histórias sofreram mudanças para adaptar-se às novas demandas, sendo então consideradas úteis para crianças, uma vez que começavam a expor certas lições de conduta e comportamento. Sinistro isso...


Perguntem-se por um momento: Em que me pareço com a Bela Adormecida ou com qualquer uma dessas infelizes? Sim, elas são um bando de mulheres coitadinhas, infelizes ou preguiçosas! Leiam as histórias novamente em caso de dúvidas!


Acho, pessoalmente, uma má idéia fazer isso com os homens, mas levei tempo para entender esse processo, pois fui adestrada para esperar que um dia o tal príncipe aparecesse. Homens e mulheres possuem expectativas mais ou menos iguais no que diz respeito à conquista amorosa. Todos desejamos ser felizes, plenos e certeiros na escolha da pessoa amada. No entanto, quando partimos em busca de uma pessoa queremos que venha preencher nossas vidas cheias de lacunas feitas por nós mesmas; tendemos a jogar a responsabilidade sobre os ombros do outro, no caso os homens! E sabemos bem como fazer isso. Não é bom!


Vejam se querem mesmo uma relação com um destes príncipes ou homens de papel:


O da Branca de Neve: Deixou-a esperando num caixão, semimorta e engasgada, em busca de auxílio.
O da Cinderela: Flertou com as irmãs da Gata Borralheira e com quase todas as súditas, além de ter tido inúmeras crises com o ‘papai’ antes de tomá-la como esposa.
O da Rapunzel: Fez a moça jogar as enormes tranças pela janela para que então pudesse subir por elas e salvá-la... Ai que dooooorrrrrrrr!
O da Bela Adormecida: A moça ficou dormindo por 100 anos até que ele conseguisse encontrá-la e despertá-la. Ô demora...


Mulheres atenção! Essa é a melhor e mais eficaz receita para a frustração amorosa e o melhor modo de transformar homens em sapos! Não depositemos na conta masculina nossas debilidades infantis! Melhor seria resolvermos a questão, buscando dentro de nós as lacunas e preenchê-las com mais de nós mesmas: mais amor-próprio, verdade, valor, autoconhecimento. Se o fizermos, muito antes de nos sentirmos sozinhas, já teremos dissolvido esses padrões. E para aquelas que têm filhas mulheres, pensem bem antes de educá-las para amar segundo a Ordem Social dos contos de fadas!


Os homens não têm que ser a salva-guarda feminina, a panacéia de barba ou o elixir de testosterona, os homens devem ser apenas os homens, e nós, apenas as mulheres.


É fácil fazer isso?
Não, a vida não é fácil e nem têm garantias, mas é mais honesto. Homens de verdade, de carne e osso, como eu ou você, são bem mais interessantes, porque são simplesmente reais!


Flô