Depois de anos de labuta, com ou sem amor à camisa, o trabalhador espera pela tão sonhada aposentadoria...
Pesquisas recentes da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, apontam que pessoas que se mantêm trabalhando após terem se aposentado, possuem uma saúde notadamente melhor, com menos riscos de aquisição de problemas graves de saúde. - Veja a notícia completa no site: O Globo.
Esta notícia me lembrou um controvertido livro: ‘O Amor Conquistado’, de Elizabeth Badinter. A autora revela, a partir de dados históricos, a relação entre mães e filhos nos séculos XVII e XVIII. Crianças recém nascidas eram entregues à amas de leite e com elas permaneciam, diga-se de passagem, nas piores condições possíveis, até a idade de 5 anos. Contrariamente ao que somos educados a pensar, a autora nos fala sobre o mito do amor materno e o processo de aquisição do mesmo, desmistifica o instinto maternal, supostamente inerente ao comportamento feminino. Ela deixa claro em seu livro a necessidade observada pela Igreja Católica, em um dado momento, de repovoar uma Europa já idosa neste período. A Igreja, por sua vez, estabeleceu uma incrível estratégia de marketing! Usou a imagem de Nossa Senhora com Jesus Menino nos braços, dando a entender que ser mãe é ter amor, é ter seu filho nos braços. Em pouco tempo, o tal ‘instinto maternal’ foi surgindo e com ele, a Europa foi sendo repovoada, seus filhos, criados e amamentados pelas próprias mães; a Igreja foi vitoriosa em sua empreitada em meados do século XIX.
Ontem o café fazia muito mal, hoje ele possui substâncias fantásticas que podem fazer maravilhas pelo cérebro. Ontem a soja era perigosa, hoje é fenomenal... O que eu quero dizer com sojas e cafés, é que certas verdades proferidas por pesquisas podem ser bem mais do que simplesmente boas notícias. Não creio em teorias de conspiração - elas são de uma obviedade sinistra - no entanto, percebo, em pesquisas assim, que o trabalhador espera uma vida inteira pelo momento do descanso e quando, enfim, ele se aposenta, não tem o direito de parar e refazer sua rotina conforme seus anseios, sonhos ou devaneios mais preciosos... Ele deve continuar a produzir para não adoecer! É muito incômodo imaginar que não temos livre-arbítrio, não?!
Ter uma saúde boa não depende de continuar trabalhando após a aposentadoria, mas de levar a vida de modo saudável!
Temos leis que compõem os direitos de aposentadoria, tivemos reformas recentes; será que a Previdência Social terá meios de continuar pagando por muito mais tempo essas aposentadorias? Durante o século passado, o caixa da Previdência Social foi usado para financiar diversas obras públicas e projetos de governo. Algo que não é muito lembrado hoje em dia. Por fim, a culpa sobre o rombo na Previdência recaiu sobre os valores das aposentadorias, mas devemos lembrar que qualquer sistema previdenciário funciona com o acúmulo dos pagamentos dos trabalhadores, enquanto ativos, em um fundo de capitalização que permita, a longo prazo, reverter este capital em pagamento das aposentadorias. Absurdamente, a solução para o rombo na nossa previdência foi a taxação dos inativos, criando-se um paradoxo: depois de contribuir por anos para ter direito ao recebimento, o pensionista deve continuar contribuindo. Por quê? Para garantir uma aposentadoria post mortem? A tal crise econômica que assolou os Estados Unidos não poderia ser o verdadeiro motivo por trás dessa pesquisa?
Quantas pesquisas e reformas ainda virão para tentar fazer-nos crer que continuar trabalhando será bom para a saúde? Quando as leis que protegem os aposentados os beneficiarão realmente? Não seria uma boa estratégia de marketing (?) dizer: Trabalhe, meu filho, trabalhe até o fim dos seus dias! Não faça outra coisa além de trabalhar! É bom pra saúde! Trabalhe e produza!
Usei o exemplo de Badinter apenas para mostrar que certas verdades podem ser construídas a partir das necessidades sócio-econômicas de um determinado período histórico. Não seria melhor para a saúde poder escolher o que se quiser antes e depois de aposentar-se, além de levar uma vida saudável, claro, e receber aquilo que é de direito, sem mais delongas?
Particularmente não penso em aposentadoria, nunca me imaginei aposentada, mas isso é uma escolha pessoal! Tampouco creio em amor maternal, creio apenas em amor!
E a sua escolha, qual é?
Como diria Raulzito: “Eu é que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.
Flor