domingo, 5 de setembro de 2010

O Salto






Era uma vez um grão de arroz. Ele vinha sendo carregado por uma colher gigante, junto com outros muitos grãos de arroz quando, de repente, escorregou e caiu fora do prato. Todo arroz tem um destino, principalmente quando ele foi cozido. Pois bem, o arroz solitário ficou em cima da pia esperando uma mão amiga devolver-lhe o caminho. Mas algo estranho aconteceu... A mão que segurava a colher, aquela mão terrível e gigantesca, não percebeu que o pobre e solitário arroz havia ficado de fora do banquete. Então, o grão ficou ali, olhando para o prato, a mão e a colher, e observou que estavam cada vez mais longe.


O arrozinho não teve dúvidas e pensou: "Uhh É agora ou nunca!”.


E tomou a decisão mais importante de toda sua vida de arroz: Foi saltitando alegremente até a beirada da pia. Olhou para baixo e ficou admirado com o que viu, pois nunca tinha tido a oportunidade de ver as coisas sob aquela perspectiva. Assim que, diante do desconhecido e embuído de muita coragem, largou-se dali mesmo e em queda livre sentiu a maior felicidade que um arroz podia conhecer. Enquanto caía, um filminho lhe passava diante de seus olhinhos de arroz. Lembrou-se de quando era apenas um rizominha, de suas primeiras folículas verdes, de seus familares reunidos na água. Era uma grande família, pensou. Lembrou-se também de quando vieram aquelas exóticas e gigantescas criaturas de ferro a retirá-lo do seio da família...


E totalmente maravilhado pela sensação da queda, não se deu conta de que sua viagem chegava ao fim. Mas o arroz estava preparado! Ele estava macio do cozimento e nada sofreu quando tocou o chão. Respirou aliviado e pensou: "Agora é nóis!" - Ele guardava um sentimento coletivo de arroz!-


De repente, um pé enorme, gigante mesmo, aproximou-se da cozinha, e com o pé estavam muitas outras partes, como as pernas e tronco e também mãos! E o arroz, muito confuso vendo aquela criatura nova, ficou parado ali olhando tudo e tentando compreender o que era aquilo(?) E concluiu que 'aquilo' era uma coisa só, que se ligava à mão! Aquela mesma mão que segurava a gigantesca colher.


Sem mais nem menos a estranha criatura, com tronco, pernas e mão veio em direção ao pequeno grão, sem nem notá-lo, claro. Um passo, outro passo e, por fim, o derradeiro passo. O último pensamento do arroz foi: "Puta que pariu... Como pude ser tão estúpido a ponto de querer lançar-me a tão inexplorável veredaaaaaa!" Plafff!


E numa só pisada o arroz, muito cozido que estava, esparramou-se debaixo da sola daquela abominável criatura, cuja mente, imaginava o grãozinho, era a mão.


Moral da história: Todo arroz tem direito a um prato! Não desista dos seus sonhos! Todos caem algumas vezes na vida. Mas quando isso acontecer, levante-se o quanto antes, pois nunca sabemos exatamente que espécie de enredo ou bizarrice está por vir... Todos têm um destino, cumpra o seu, ou então, é bem capaz de você ficar preso sob as solas e os passos de alguém...


Eu, o grão de feijão, vi e falei!


Flor

3 comentários:

Anônimo disse...

Que bonitinho!
Meio triste, mas bonitinho!
bjs
Dric@

Mara Rúbia disse...

Esse arroz é de ótima qualidade: gostoso e tudo de bom que um arroz pode e tem que ser. Apenas alguns grãos que estavam juntos na mesma panela, passaram do ponto ou ficaram crús. Isso explica tudo.(Espero ter me feito entender) Ou não.

Flor Falante disse...

Ahahahahh Maroca! Só tu mesmo! Adorei esse comentário! Explica tudo, sim!!
Beijos